Carne viva
Carne viva
Hoje em dia, a expressão “natureza da arte” é alvo de desconfiança. Talvez a palavra “natureza” seja o seu componente mais problemático, pois ela pode significar um conjunto de propriedades formais específicas e necessárias, definidoras dos trabalhos de arte, elencadas a partir de um lugar fora da história.
Entretanto, a exposição “Carne Viva – Ambiguidade da Forma” nos oferece a oportunidade de revisitar essa expressão e retomar sua pertinência. A partir das poéticas de Washington Silvera, Hugo Mendes, Eliane Prolik, Cleverson Salvaro, Cleverson Oliveira, Cíntia Ribas e Carina Weidle, a referida expressão só pode funcionar para marcar a fuga de definições unívocas e perversas da arte e da vida. Em vez de classificar os trabalhos mediante suas propriedades formais, ela descreve sensibilizações e reflexões possíveis, mas que escapam às determinações corriqueiras. Talvez seja esse o efeito da forma ambígua, cujo ânimo também percorre as palavras de Arthur do Carmo.
Além disso, os trabalhos e textos aqui reunidos partilham de uma ambivalência mais profunda que ressoa no título da exposição. Pois se a alusão à vida evoca a alma – aquilo que anima, o termo “carne” indica o fim e refere-se inclusive ao laço entre morte e cultura. Carne pode descrever o destino da presa como refeição dentro de um ciclo sustentável, mas a cultura também pode ser excessivamente predatória com relação à vida em sentido amplo. Por isso, no campo desta exposição, os trabalhos são objetos para o olhar, mas que se revelam armadilhas: nos capturam na intrincada teia de um dilema maior.
CARNE VIVA | AMBIGUIDADE DA FORMA | MON (museuoscarniemeyer.org.br)
Acesso em 23 de abril de 2024